segunda-feira, 15 de abril de 2013

Causos

 

Todo pescador tem suas histórias, verdadeiras ou falsas, e eu tenho as minhas.

Porra nenhuma

Essa não é piada, é verdade mesmo. Fomos pescar na Vossoroca, um grande lago de águas claras, muito bonito, aqui perto de Curitiba. Paramos o carro num posto e perguntamos ao frentista como chegar até a margem do lago.

- Voces podem entrar ali naquela estradinha, disse ele apontando, e descer uns 2 km. No final dela, vocês vão encontrar um pesqueiro bom. Mas, é melhor vocês irem embora agora, sem pescar, por que vocês não vão pegar porra nenhuma.

Descemos até a represa, decididos a honrar nossa fama de grandes lambarizeiros, a pegar alguns quilos de lambaris, e mais ainda : dar de presente ao frentista do posto uns 30 lambaris. Isso para ensinar a ele a não tirar sarro de nós, um bando de putas velhas em matéria de pescaria.

Chegamos ao local, armamos nossas traias e iniciamos a pescaria. Depois de 3 horas e nenhuma beliscada, deixamos nosso orgulho de lado e decidimos parar de pescar, e ir embora.

Não pegamos porra nenhuma, nenhum lambari.

Pior, ao passar novamente com o carro no posto, o frentista nos acenou fez aquele gesto típico de “se foderam” : batia uma mão espalmada sobre a outra, fechada. Dando risada.

Tiriscos

Essa também é verdadeira, não é piada. Um grupo de pescadores experientes convidaram dois novatos para pescar lambaris. Chegando ao rio, já noite, montaram acampamento. Um dos experientes diz :

“Bom, eu vou cozinhar hoje. Vamos dividir as tarefas. Quem vai pegar tiriscos ?”

Tiriscos ?”, pergunta um dos novatos, “Que é isso ?”

É um inseto voador, muito bom para isca de lambari. O lambari não pode ver tirisco, ele ataca com vontade !”

“E como é que se pega este tal de tirisco ?”

“Muito simples, voce vai ali naquele matinho e fica segurando um saco de plástico, aberto, grande, com um farolete aceso lá dentro. O tirisco vem voando, e atraído pela luz do farolete, entra dentro do saco. Daí é só voce fechar o saco, pronto, estão pegos os tiriscos !”

“Puxa, é muito fácil !” diz o novato.

Não é tão simples assim. Um outro deve ir adiante, e ficar batendo uma lata, fazendo barulho. É para espantar os tiriscos, que saem voando, assustados !”

E sugerem aos dois novatos sairem para buscar tiriscos. Estes, querendo demonstrar boa vontade e colaborar, saem, vão até ao matinho e fazem exatamente o que lhe ensinaram. Insistentes, ficam uns 30 minutos, um batendo lata e outro segurando um saco com farolete aceso dentro.

E um dos experientes dava instruções, gritando de longe : “Bata a lata com mais força ! “. “Abra mais o saco ! “

Voltam, é claro, sem nenhum tirisco.

“Não pegaram nenhum ? Então eu acho que ainda não é época de tiriscos. Eles devem estar no estágio de casulo” diz um dos experientes, se segurando para não rir.

“Pois é, não pegamos, e agora estamos curiosos. Como é esse tal de tirisco ? De que tamanho ? De que cor ? “

“Não sabemos”, diz outro pescador experiente, “nunca vimos, pois nunca pegamos nenhum !”.

 

O nascimento da pecadora

Meu amigo Reinold, grande pescador, apresentador do Pesca Dinamica, por ocasião do nascimento da primeira neta, me envia um e-mail :

“Nasceu fulana, minha netinha !! Mais uma pecadora !”

Na empolgação, digitou errado, comeu o “S” da “pescadora”.

Voces não sabem pescar”

Sempre que ia para Joinville, passava por uma ponte de um rio grande, muito bonito, de águas muito verdes. É o Rio Cubatão. E sempre que passava ali, pensava “um rio tão bonito desses, só pode ser piscoso, cheio de lambaris”.

Um dia resolvemos tirar a dúvida. Fomos lá, um grupo de quatro pescadores, dispostos a arrancar peixe daquele belo rio.

Lá chegando, perguntamos para um local aonde poderíamos encontrar um bom lugar para pescar lambaris.

Voces atravessem a ponte, peguem a estradinha a direita, ali. Dirijam um quilometro e vão ver uma porteira. Entrem ali e falem com a dona Aurora, ela cobra 10 reais por pessoa pra entrar na propriedade. Vale a pena, é lugar limpo, bem cuidado e bonito”.

Partimos, empolgados, ansiosos. Lá chegando, nos recebe a tal da dona Aurora, uma senhorinha na casa dos 70, miudinha, mirradinha e muito simpática. Antes de entrar, perguntamos à ela se tinha lambaris no local.

O rio tá preto e agitado, de tanto lambari lá dentro !”

Animados diante do veredicto da senhora, pagamos os 40 reais, entramos. O local era lindo, gramado, sombras, churrasqueira, e tudo mais. Mas depois de uma hora sem beliscada nenhuma, sem ver nenhum lambari fora d´agua, resolvemos ir embora. Dona Aurora tinha nos enganado, não tinha nenhum lambari no local. Resolvemos então exigir que ela nos devolvesse os 40 reais.

Irritada diante da nossa exigência, disparou :

“Lambari tem de monte, muitos. Voces é que não sabem pescar !”.

Indignada, disse que não ia devolver o dinheiro, não tinha culpa da nossa inabilidade.

Fomos embora, um olhando prá cara do outro, rindo e imitando a voz esganiçada da dona Aurora : “voce é que não sabe pescar !”. Cada um de nós tinha 30 anos de pescaria de lambaris nas costas, e segundo a velhinha, ainda não tínhamos aprendido a pescar. Fizemos as contas, quatro pescadores, 30 anos, isso resulta em 120 anos de pescaria, experiência insuficiente para pegar um mísero e misterioso lambari do gigantesco cardume da dona Aurora.

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Um comentário:

  1. Certa vez fomos pescar em Cerro Azul, Rio Ribeira, eu tava de carona no banco de tras, nunca tinha visto tanta curva junta numa estrada, chegamos em fim no dito, meu filho foi o primeiro a por sagu na agua, ai veio o mair lambari que eu tinha visto, pensei hoje vai ser o dia, pra minha surpresa foi o unico, e o pior aquelas curvas na volta, tem mais, mais o resto e segredo.

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